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Me formei em Letras pela Universidade de São Paulo há pouco tempo, e, desde que comecei a criar conteúdo, venho pensando em como trazer algo que unisse duas coisas que me definem: linguagem e estratégia de comunicação em marketing.
Acontece que a resposta estava na minha cara o tempo todo, porque essas duas coisas estão intrinsecamente ligadas.
Mas, antes de entrar no assunto em si, quero começar falando sobre essa minha experiência com linguagens. E quando digo linguagens, estou falando no plural mesmo: não só gramática e estrutura, mas cultura, pensamento e a forma como o mundo se organiza a partir das palavras.
Acredito que não existe lugar melhor para essa vivência do que a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Era comum cruzar com grupos conversando em coreano, alemão, italiano, espanhol, ou línguas que eu nem conseguia identificar de ouvido. Os corredores da FFLCH são um verdadeiro ecossistema linguístico.
Durante a graduação, tive contato mais profundo com duas línguas específicas (além do português, é claro): o japonês e o armênio.
O japonês foi meu foco principal. Estudei durante oito anos, dentro e fora da faculdade. Era uma paixão antiga, dessas que começam cedo — no meu caso, aos 12 anos — e que acabam moldando o jeito como você vê o mundo.
Já o armênio chegou de surpresa e arrebatou meu coração: entrei na matéria com aquele clássico pensamento universitário de “preciso de créditos para me formar” e saí completamente envolvida.
Peguei algumas disciplinas de cultura pensando no histórico escolar, mas acabei gostando tanto do idioma e do país que, no último ano de faculdade, dediquei praticamente um semestre inteiro à língua armênia.
Agora, se esse é um texto sobre marketing, talvez você esteja se perguntando: o que japonês e armênio têm a ver com essa conversa?
Bom… eu sempre gostei de usar experiências pessoais e referências fora do óbvio para explicar conceitos mais técnicos. E aqui entra a interseção que me interessa: a verdade é que a gente tem muito a aprender com essas duas línguas quando o assunto é comunicação em marketing.
Neste texto, quero te mostrar como se comunicar melhor com o seu público — e como posicionar sua marca de forma mais clara, coerente e estratégica — usando os aprendizados que carrego desses sete anos de estudo. Vai ser uma jornada cultural com várias escalas curiosas pelo caminho, posso te garantir.
Então, pega o passaporte e vem comigo.
Quais são os pilares da comunicação estratégica no marketing digital?
Antes de mergulhar nos aprendizados que línguas como o japonês e o armênio trazem para o marketing digital, vamos primeiro dar uma olhada no que sustenta qualquer sistema de comunicação: sua base estrutural.
Assim como toda língua tem um conjunto de regras que organiza o discurso — sejam sons, gramática ou contexto —, a comunicação em marketing também se apoia em pilares. São eles que garantem que a mensagem não só chegue ao público, mas seja compreendida, sentida e, muitas vezes, transformada em ação.
Essa vai ser nossa primeira parada.
O entendimento como essência: comunicação efetiva no digital
Eu tenho quase como um mantra que ouvia diariamente na faculdade a seguinte frase:
Parece simples, mas não é. Muitas marcas ainda tratam a comunicação em marketing como se fosse uma vitrine de ideias criativas, quando, na verdade, ela é uma ponte. E uma ponte só funciona se ela te leva de um lado ao outro com segurança.
No marketing digital, onde o tempo de atenção é curto e a concorrência por significado é brutal, uma comunicação efetiva precisa cumprir três funções básicas:
- Ser clara;
- Ser relevante para quem recebe;
- Ser interpretada como se espera.
E o que melhor para exemplificar essa ideia do que nossa querida língua materna, não é mesmo?
Se você é falante nativo, talvez nunca tenha parado para pensar em como nossa língua é versátil. Só que essa versatilidade pode muito facilmente virar armadilha.
No português, podemos dizer a mesma coisa de muitas e muitas formas diferentes. E, mesmo que todas estejam “certas”, cada uma carrega um subtexto diferente.
A importância da escolha das palavras no marketing
Pense rapidinho aqui comigo nos termos “oferta”, “promoção” e “desconto exclusivo”.
Os três falam, na essência, da mesma coisa: uma redução no valor de um produto ou serviço. Mas observe bem o que muda entre elas:
- “Oferta” parece ampla, quase impessoal. Algo que está disponível, mas sem urgência. Você imediatamente conecta a um panfleto de mercado, por exemplo.
- “Promoção” já carrega um tom mais coloquial, próximo do varejo. Aquele tipo de palavra que a gente associa com banner vermelho e preço piscando. Dá a ideia de algo que tem tempo para acabar, então você precisa correr e aproveitar.
- “Desconto exclusivo”, por outro lado, adiciona sofisticação e pertencimento. Sugere algo pensado para um grupo específico. É mais personalizado, mais íntimo, e também mais estratégico.
Nenhuma dessas escolhas está errada. O ponto é: qual delas se alinha melhor com o público que você quer atingir? Com o objetivo que você tem em mente?
Essas nuances fazem toda a diferença. E o português permite e exige esse cuidado, porque é uma língua rica em sinônimos.
A mesma ação podem parecer completamente diferente só por conta da escolha das palavras.
E podemos ir além. Dá uma conferida nesse quadro de ideias que, apesar de terem o mesmo significado, passam sentidos diferentes:
É por isso que, na comunicação digital em marketing, a forma como você escreve importa tanto quanto o que você quer dizer.
A mesma lógica vale para todo o resto da sua comunicação: do tom dos e-mails ao texto dos botões, da bio do Instagram aos anúncios de performance. Tudo, absolutamente tudo comunica e influencia na experiência do cliente e no posicionamento da marca.
Se você não pensar estrategicamente na forma, o conteúdo pode até estar certo, mas a percepção vai estar errada.
Como adaptar a linguagem à persona e à jornada do cliente?
Se comunicar bem é, antes de tudo, se colocar no lugar de quem vai ler.
A linguagem que funciona para um público pode afastar completamente outro, e o que gera conexão em um momento da jornada pode parecer invasivo ou genérico em outro.
Muitas marcas escorregam aqui. Falam difícil demais com quem está começando. Ou simples demais com quem já entende. Tentam soar jovens quando o público busca autoridade. Usam um tom institucional quando a conversa deveria ser íntima.
É o famoso “falar para todos” e, no fim, não ser compreendido por ninguém.
Vamos pensar em dois extremos da jornada do cliente:
- No topo do funil, quando alguém acabou de descobrir sua marca, o foco da comunicação precisa ser acolher, gerar identificação e despertar curiosidade. O tom é mais leve, explicativo, convidativo. Perguntas funcionam melhor que afirmações.
- Já no fundo do funil, com alguém prestes a tomar uma decisão, a conversa muda. O conteúdo precisa ser mais direto, com foco em diferenciais, provas sociais, senso de urgência e clareza de proposta. É aqui que a linguagem ganha precisão e cada palavra carrega um peso estratégico maior.
A mesma regra vale para diferentes personas. Um gestor sênior de uma empresa B2B não quer ler o mesmo texto que um criador de conteúdo autônomo. Não é só o vocabulário que muda: é o jeito de argumentar, os exemplos, o ritmo, os canais. É o idioma emocional de cada grupo.
Adaptar a linguagem na comunicação em marketing não é perder identidade, mas demonstrar inteligência comunicacional e fortalecer o branding digital da marca.
É saber que nem toda verdade precisa ser dita do mesmo jeito. E que quem comunica pensando em si transmite. Mas quem comunica pensando no outro, conecta.
Brand Voice: criando uma identidade de marca autêntica
No marketing digital, adaptar a comunicação é essencial, mas perder a identidade no caminho pode ser fatal. Não adianta falar na linguagem do público se, no fim das contas, sua marca soa como qualquer outra.
É aí que entra o conceito de Brand Voice: o jeito único como sua marca se expressa, independente do canal, do formato ou da tendência da vez.
Dá só uma olhada nessas estatísticas:
- Reconhecimento da Marca: Segundo a Render Forest, 25% das pessoas reconhecem uma marca pela sua voz única.
- Confiança do Consumidor: 81% dos consumidores precisam confiar em uma marca para considerar a compra.
- Engajamento Emocional: 94% dos consumidores recomendam marcas com as quais têm uma conexão emocional.
- Impacto na Receita: Marcas que mantêm consistência no brand voice relatam um aumento de 10% a 20% no crescimento da receita, segundo a Marq.
Essa voz não é só um tom. É uma herança. Um reflexo da história da empresa, dos valores que ela carrega e da forma como quer ser percebida no mundo. Adaptar a linguagem a cada contexto e plataforma é parte do jogo, mas manter a essência enquanto faz isso é a verdadeira estratégia.
E por falar em essência…
A resiliência da identidade: o exemplo da língua armênia
O armênio é uma língua que sobreviveu à diáspora (movimento que um povo é obrigado a fazer em tempos de guerra para sobreviver, basicamente), à opressão e ao distanciamento de sua terra natal.
Não vou entrar muito em partes históricas aqui, mas saiba que a Armênia carrega uma longa história de conflitos devido à sua localização geográfica. Isso levou o povo a precisar fugir.
Mesmo espalhados pelo mundo, os armênios mantêm sua língua viva — seja em casa, nas igrejas, nas escolas da comunidade (no Brasil, essa comunidade é estimada em 100 mil pessoas, e a maioria vive em São Paulo). A linguagem virou um elo de pertencimento, uma forma de não esquecer quem são, mesmo longe de sua terra natal.
É um pouco disso que as marcas precisam. Em um cenário cheio de ruídos e modismos, manter uma comunicação coerente e reconhecível é o que constrói conexão de verdade. O desafio é ser flexível sem se desfigurar.
Uma marca que fala como uma adolescente no TikTok e como um banco centenário no LinkedIn provavelmente está tentando se adaptar demais e esquecendo de ser ela mesma. Já uma marca que entende sua essência e sabe moldá-la com inteligência para diferentes espaços mantém a clareza mesmo em meio ao caos.
A romã no deserto: uma história sobre essência
Existe uma crônica de William Saroyan, um dos escritores armênios mais famosos da história, que me marcou muito na faculdade.
Nela, o protagonista acompanha o tio, que tenta transformar o deserto da Califórnia em um pomar de romãs. As romãs, para os armênios, são muito mais do que uma fruta. São um símbolo de cultura, história e identidade. E foi por isso que, ao se exilar nos Estados Unidos, o tio levou as sementes consigo.
Só que o solo era seco. A água, escassa. As romãs, que em sua terra natal floresciam com facilidade, ali mal vingavam. Ainda assim, ele insistia em plantar, cuidar, preservar.
No fim, o pomar não prospera, mas isso não significa um fracasso, porque a mensagem principal da crônica não era forçar um cultivo impossível, mas afirmar um pedaço da sua identidade, mesmo em solo estrangeiro.
Sempre que penso em Brand Voice, lembro dessa história.
Toda marca precisa se adaptar — a novos canais, novas linguagens, novos públicos. Mas adaptar não significa virar outra coisa. Não significa tentar ser o que não é só para atender ao gosto do momento. Existe um núcleo que deve ser preservado. Um jeito de falar, de se posicionar, de se relacionar, que traduz a essência da marca mesmo quando o contexto muda.
É isso que faz com que elas permaneçam reconhecíveis e relevantes em um cenário em constante transformação.
Quando uma marca perde essa coerência, acontece um risco silencioso: mesmo tendo muito a dizer, já não encontra uma linguagem que traduza aquilo que a torna única.
Ou, nas palavras de Saroyan: “There was such an awful lot to say, and no language to say it in.”
Cada público, uma proposta diferente
Para deixar tudo que conversamos sobre Brand Voice bem amarradinho, quero que pense neste cenário: uma fábrica de mangueiras industriais que precisa dialogar com engenheiros, técnicos e gestores de operação. O que eles esperam?
- Dados;
- Desempenho;
- Segurança.
Aqui, a comunicação precisa ser precisa, técnica, direta, confiável.
Agora, troque a cena. Imagine uma empresa que desenvolve brindes costuráveis e mochilas personalizadas.
O público principal é o setor de marketing de outras empresas, que busca personalização, criatividade e impacto visual. A conversa muda completamente: sai o jargão técnico, entra a linguagem que valoriza a diferenciação, criatividade e conexão emocional.
Será que a comunicação funcionaria se essas duas empresas invertessem a forma como conversam com seus públicos? Provavelmente não, concorda?
A gente nem precisa ir tão longe. Podemos usar exemplos da mesma área.
Um médico urologista em São Paulo se comunica com um público majoritariamente masculino, em uma cidade grande, acelerada, onde o paciente chega ao consultório carregando não só dúvidas e preconceitos, mas também pressa e desconfiança.
Aqui, a comunicação precisa ser acolhedora, sim, mas também objetiva. Sem rodeios. A mensagem tem de quebrar o gelo rápido, criar um clima de segurança e passar confiança técnica. Não é hora de florear o discurso. É falar de saúde masculina com naturalidade, com uma postura de quem entende do assunto e respeita o paciente.
Agora, pense em uma psiquiatra em Curitiba.
Ainda na área médica, mas outra especialidade, outro contexto cultural. O estigma em torno da saúde mental ainda é forte, e o público muitas vezes chega mais fragilizado, mais introspectivo. Além disso, uma cidade com um ritmo menos frenético, com um perfil cultural mais reservado, pede uma abordagem mais sensível, mais gradual.
Aqui, o jeito de dizer “estou aqui para te ouvir” envolve escuta ativa, um vocabulário que não intimide, um ritmo mais espaçado na comunicação, para que o paciente se sinta seguro e respeitado.
Quatro públicos diferentes.
Quatro realidades diferentes.
Quatro jeitos de conversar.
O que esses exemplos todos têm em comum? A consciência de que a linguagem não serve apenas para descrever o produto: ela define a experiência do público com a marca.
O subtexto e a comunicação de alto contexto no japonês
Você acreditaria se eu dissesse que o japonês é, em muitos aspectos, uma língua extremamente simples? Mas é justamente essa simplicidade que a torna tão desafiadora.
Enquanto o português conta com uma variedade enorme de sons e palavras, o japonês tem apenas 71 traços sonoros para formar todas as suas palavras. Isso faz com que haja muitos termos parecidos — ou até idênticos na sonoridade — mas com significados completamente diferentes.
Por isso, captar o contexto é essencial para entender a mensagem real.
Indo além, a própria construção das frases segue uma lógica distinta. No japonês, a ordem natural é SOV — sujeito, objeto, verbo — e não SVO, como no português. Isso significa que o verbo, ou seja, a ação, vem só no fim da frase. Até lá, o ouvinte precisa sustentar uma atenção ativa, captando nuances e preparando-se para o que vem.
Mas o impacto vai muito além da gramática.
A língua molda a cultura, e no Japão, a comunicação é de alto contexto (high-context). Em vez de explicar tudo de forma explícita, espera-se que o ouvinte entenda o que não foi dito, através de pistas sutis, gestos, tom de voz, expressões faciais e até hierarquia ou contexto da relação.
Uma vez, meu professor separou uma aula inteira só para nos mostrar como você entrega um cartão de visitas no Japão. Parece uma ação simples para nós, mas lá esse ato é cheio de regrinhas sociais que, quando não realizadas, pode passar uma ideia errada.
Existe um provérbio que resume bem essa filosofia:
一を聞いて十を知る (ichi wo kiite juu wo shiru) — “ouvir um, entender dez”.
Ser bom de comunicação, nesse universo, não é falar bem. É perceber bem. É ter kansatsuryoku — a habilidade de observar. De ler o ar (kuuki wo yomu).
E isso vale para muito além do japonês. Vale para marcas que buscam se comunicar de forma relevante.
Afinal, o seu público não verbaliza tudo:
- Ele não diz “esse conteúdo está genérico”. Ele só rola para o próximo.
- Ele não comenta “essa marca não me entende”. Ele apenas busca outra.
- Ele não envia feedback dizendo “isso me soou insincero”. Ele simplesmente se desengaja.
Saber “ler o ar” no marketing é interpretar esses sinais.
É perceber o que está por trás dos números, dos silêncios, das micro-reações. É entender o que o cliente não disse, e, muitas vezes, nem saberia colocar em palavras.
Marcas que desenvolvem essa inteligência emocional criam conteúdos que se conectam mais. Que antecipam dúvidas. Que respondem antes que a pergunta seja feita. Que geram a sensação de “essa marca me entende”, mesmo sem dizer uma palavra a mais.
Assim como no japonês, às vezes o mais potente não é o que se fala. É o que se deixa sentir.
Comunicação omnichannel: como criar experiências coesas
Kotler define canais omnichannel, no livro Marketing 5.0, como uma forma de criar para o cliente “uma experiência fluida através de todos os canais”. Em vez de ações isoladas, o omnichannel propõe “uma troca constante” entre plataformas — como redes sociais, lojas físicas, sites e aplicativos — em que cada canal pode desempenhar um papel diferente, impulsionando o cliente pela jornada inteira até a compra.
Esse olhar mais estratégico permite que a marca alinhe sua linguagem, seu tom e sua proposta de valor com muito mais precisão. Como o próprio Kotler reforça:
“Ao entender os papéis que cada canal desempenha no caminho até a compra, a empresa pode oferecer uma mensagem e uma experiência coerentes em todos os canais, servindo melhor ao cliente”.
— Marketing 6.0, Philip Kotler
E isso, como consequência, fortalece o trabalho do marketing como um todo e aumenta a fidelidade do consumidor.
Mas vamos sair da teoria.
Toda marca fala. Mas será que ela é ouvida da mesma forma em todos os lugares onde aparece?
No mundo real, ninguém troca de personalidade ao entrar em uma sala nova — e com marcas não deveria ser diferente. A comunicação omnichannel existe para garantir justamente isso: que, independentemente do canal, o público reconheça a mesma essência, o mesmo cuidado e os mesmos valores.
Quando todos os pontos de contato contam a mesma história, com as mesmas escolhas de tom e a mesma clareza de intenção, o que se forma é um laço de familiaridade.
Não dá para esperar que uma única peça ou canal carregue o peso da comunicação. Tudo precisa estar em sintonia: texto, visual, timing, tom, ritmo, canal. Porque no fim, o que o cliente experimenta não são partes: é um todo.
E esse é justamente o papel da comunicação omnichannel: garantir que, em cada ponto de contato, o público sinta que está falando com alguém que o entende.
Boas práticas para uma conexão genuína com o público
Não existe fórmula mágica para uma comunicação que conecta. Mas existem práticas que, quando bem aplicadas, funcionam como bússola: não apontam exatamente o que dizer, mas ajudam a evitar os caminhos errados.
A primeira delas é a escuta
Antes de falar, entender. Parece óbvio, mas é raro. No marketing, escutar significa investigar o que o público sente, como se comporta, quais termos usa e o que evita. É perceber padrões, mas também lacunas. É reconhecer o que ainda não foi dito e por quê.
O japonês tem uma palavra que ajuda a traduzir essa prática: sassuru (察する). Diferente de kuuki o yomu, que vimos no bloco anterior, sassuru traz a ideia de “perceber com empatia”, entender o que o outro quer dizer sem que precise expressar.
Para uma marca, essa capacidade é valiosa: ajuda a antecipar objeções, ajustar tom de voz e criar conteúdo que acolhe antes mesmo da pergunta chegar.
A segunda prática é a simplicidade
Simplicidade não é empobrecimento. É refinamento. No português, temos uma construção gramatical única: a possibilidade de dizer muito com pouco.
Verbos que carregam contexto, pronomes que evitam repetições, entonações que substituem parágrafos inteiros. Uma marca que sabe escrever com clareza ganha autoridade, não pela complexidade do que diz, mas pela confiança que transmite ao facilitar o entendimento.
A terceira é a consistência
Comunicar uma vez não basta. O público precisa reconhecer a voz da marca em diferentes formatos, momentos e canais. E é aqui que o armênio entra de novo.
Uma língua com um alfabeto próprio, que sobreviveu mesmo depois de séculos de diáspora. Por quê? Porque se manteve viva nos detalhes: no uso doméstico, nos livros, nas igrejas, nas tradições.
A identidade se sustentou pela repetição com significado. Para marcas, isso vale como um lembrete: repetir só funciona quando o conteúdo carrega intenção, memória e valor.
E a última prática é a adaptação ágil
O mercado muda. O público também. E marcas que não se movem acabam ficando para trás.
Mas adaptar não significa abandonar tudo. Significa saber o que manter e o que atualizar. Um post que não engajou pode virar insight. Um tom que não funcionou pode apontar para uma oportunidade de se reconectar.
A flexibilidade estratégica é o que permite que a linguagem evolua sem perder coerência.
Ações práticas para aplicar tudo isso:
- Mapeie a jornada do seu cliente com lupa, não com binóculo.
- Identifique quais canais fazem sentido em cada etapa (e não use todos por usar).
- Defina o tom de voz da sua marca com base em quem ela é — e não apenas em tendências.
- Teste formatos diferentes de conteúdo (texto, vídeo, áudio), mas sempre com a mesma alma.
- E por fim, revise constantemente: o que está sendo entendido como você queria? O que está ficando no meio do caminho?
No fim, o desafio da comunicação não é inventar palavras bonitas. É garantir que cada palavra dite a direção certa.
Desafios, ética e mensuração da comunicação em marketing
Depois de construir a base e avançar nas estratégias, vem a parte mais delicada — e também mais negligenciada.
A comunicação em marketing não é só sobre o que se diz, mas também sobre o que se evita dizer, o que se mede, o que se corrige e o que se sustenta a longo prazo.
É aqui que muitas marcas tropeçam: não por falta de criatividade, mas por ausência de consistência, responsabilidade e critérios claros de avaliação.
Erros que quebram a confiança do público
Comunicar errado não é só desperdiçar esforço. É romper confiança.
E isso acontece com mais frequência do que se imagina, mesmo com boas intenções. Olha só alguns deslizes que continuam sabotando marcas por aí:
- Usar linguagem técnica para um público leigo, achando que isso demonstra autoridade.
- Forçar um tom descolado ou moderninho em contextos que pedem sobriedade.
- Ignorar o contexto social, regional ou cultural de quem vai receber a mensagem.
- Usar expressões genéricas que poderiam vir de qualquer marca, de qualquer lugar.
Comunicação estratégica exige escuta, empatia e revisão constante. Não dá para criar um post hoje com a cabeça de 2020, e nem um e-mail como se fosse panfleto. O mundo gira, e o entendimento gira junto.
Como garantir uma comunicação responsável
Se antes bastava parecer ético, hoje o público exige coerência real entre discurso e prática.
Empresas estão sendo cobradas por:
- Transparência nas promessas (especialmente em vendas e publicidade).
- Cuidado com os dados (a LGPD está aí para lembrar disso).
- Representatividade de verdade — e não só na semana da diversidade.
- Posicionamentos públicos em temas relevantes (e coerentes com seus valores).
A comunicação responsável vai além do conteúdo. Ela está no jeito como a marca responde a uma crítica. No que deixa de postar durante uma crise. No cuidado com a linguagem ao tratar temas sensíveis.
E mais: marcas que praticam esse tipo de comunicação não perdem espaço. Elas ganham autoridade, afeto e lealdade.
Toda linguagem tem limites éticos. No marketing, não é diferente.
Manipular dados, forçar gatilhos mentais ou simular escassez artificial pode até gerar conversão a curto prazo, mas mina a confiança. E confiança é um idioma que, quando perdido, é muito difícil de reaprender.
Na cultura armênia, preservar a verdade oral foi um ato de resistência. O que não podia ser registrado oficialmente, era passado de geração em geração, e só sobrevivia o que mantinha sua integridade.
Na comunicação em marketing digital, a ética precisa ocupar esse mesmo lugar: ser criteriosa antes de ser estética. Não basta ter uma brand voice bonita. Ela precisa ser confiável. Precisa sustentar o que promete. Precisa ser honesta o suficiente para não precisar ser explicada.
Métricas para avaliar o impacto da comunicação
De que adianta investir em conteúdo, branding e redes sociais se você não sabe o que está funcionando?
Comunicação estratégica é também comunicação mensurável.
Aqui estão alguns indicadores que ajudam a sair do achismo e entrar na análise real:
- Engajamento (curtidas, comentários, compartilhamentos, tempo de permanência).
- Tráfego qualificado (número de visitantes que avançam na jornada de compra).
- Taxa de conversão (quantos realmente viram leads, clientes ou oportunidades).
- Custo por lead (CPL) e ROI (Retorno sobre Investimento).
- Reconhecimento de marca (Brand Awareness), medido por buscas diretas, menções e alcance orgânico.
Mas atenção: métrica por métrica não resolve. O que importa é conectar esses números com objetivos reais de negócio. É transformar a comunicação de um “custo” para uma alavanca de crescimento visível e sustentável.
Medir é traduzir
Em japonês, o verbo wakaru (分かる) é comumente traduzido como “entender”, mas ele também pode significar outras coisas: dividir, separar.
A ideia por trás da palavra não é apenas absorver uma informação, mas distinguir, segmentar, perceber as diferenças. Ou seja, entender não é só saber, é saber discriminar.
E é exatamente isso que uma análise de métricas bem-feita deveria fazer. Separar o que parece funcionar do que realmente gera resultado. Distinguir os picos de vaidade dos sinais consistentes. Dividir os dados crus daquilo que faz sentido para o seu negócio, sua campanha, sua marca.
“50 mil impressões” pode parecer ótimo — até você perceber que a taxa de conversão é praticamente nula.
“500 cliques” pode parecer pouco — até você ver que foram cliques qualificados, que geraram vendas.
É como olhar para a palavra wakaru sem saber o contexto da frase: você pode achar que entendeu, quando, na verdade, só viu uma parte da história.
No japonês, o sentido completo de uma frase depende de tudo que vem antes e depois. Às vezes, a palavra-chave está subentendida. Às vezes, nem aparece. Você precisa ler o ar (de novo, kuuki o yomu), captar o que não está explícito.
E com os dados é a mesma coisa: a leitura mais valiosa não está na superfície, mas no que conecta os pontos.
Conclusão: comunicação em marketing é construir elos
Se tem uma coisa que sete anos estudando línguas me ensinaram, é que comunicação não se mede pela quantidade de palavras, mas pela qualidade do entendimento. E, no marketing, essa verdade é ainda mais visível: uma marca pode ter presença em todos os canais, pode seguir todas as tendências, mas se ela não for compreendida, nada disso importa.
Ao longo deste texto, a gente percorreu caminhos bem diferentes: do deserto californiano de um fazendeiro armênio aos silêncios cheios de sentido do japonês. Tudo isso para mostrar uma coisa só: comunicar bem não é dizer tudo. É saber o que precisa ser dito, como e para quem.
Cada escolha de palavra, cada tom, cada canal, cada pausa… tudo isso constrói ou enfraquece o elo na comunicação em marketing entre marca e público. Por isso, falar com clareza não é o ponto final — é o ponto de partida para qualquer estratégia que queira gerar conexão real, e não só visibilidade passageira.
E quando a linguagem falha, perde-se mais do que conversão. Perde-se o vínculo, o sentido, o que poderia ter sido deixado como legado. Porque a pior falha de comunicação não é ser ignorado. É não conseguir ser lembrado por aquilo que se tentou dizer.
É aí que a comunicação estratégica entra: como ponte, como solo fértil, como tradução entre o que sua marca quer dizer e o que o público está pronto para receber.
Na Farmer, a gente ajuda empresas a tirar as palavras certas da gaveta e transformar discurso em direção. Com estratégia, com consistência e — acima de tudo — com uma escuta que respeita o que sua marca é.
Quer uma ajuda para levar suas palavras ao público certo? Vamos conversar! Ou melhor: 話しましょうか?